quarta-feira, 24 de março de 2010

AÇÕES RESPONSÁVEIS E IRRESPONSÁVEIS


Tudo o que praticamos como motociclistas nos afeta de forma bem mais profunda do que a maioria acredita. A maneira como nos portamos frente a outras pessoas reflete nosso conhecimento, preparo, bem como nossas faltas e despreparo. Cabe-nos identificar que tipo de imagem estamos passando para a sociedade e que impacto essa imagem terá em nosso futuro.

Uma atitude agressiva no trânsito, excesso de velocidade em ambientes impróprios, causam efeitos catastróficos para todos nós. O "moto-boy" que chuta o espelho de um carro no corredor porque alguém não lhe deixou passagem livre me afeta, e também a você, porque passa a imagem de que todos nos comportamos de maneira imprópria. Vende à sociedade uma imagem de rebeldia e insensatez que, de fato, não é correta, mas que irá nos afetar a todos em diferentes níveis. Sinto na pele a crescente discriminação por conta da ação infeliz de uma minoria. Os bandidos, por exemplo, que veem na moto o veículo ideal para cometer seus delitos e fugir, remetem à sociedade uma visão de que todos que portam um capacete são bandidos. Os jornais publicam manchetes em primeira página com letras garrafais: "Motoqueiros assassinam delegado na porta de casa" . Essa é a imagem que acaba registrada por boa parte da sociedade. Se eu for a um banco trajando paletó e gravata, serei tratado com toda a cordialidade estendida a um empresário; mas se me aproximar da porta giratória portando capacete e jaqueta motociclística, terei que me despir quase por completo para poder entrar. Se, ainda, estivesse morando no interior de um estado nordestino, poderia até ser preso pelo uso do capacete, porque a visão deturpada de um juiz proibiu em uma cidade o uso do equipamento de segurança que, eventualmente, pode me salvar a vida. Tudo porque uma parcela de nós utiliza a moto de maneira indevida, inapropriada e abusiva.

Adoro motos esportivas. É onde me sinto confortável e pleno. Era ótimo poder vestir meu macacão e sair pelas estradas notando a admiração e certa inveja dos que comigo cruzavam. Atualmente me sinto constrangido por conta de um episódio lamentável ocorrido em São Paulo. Um grupo de motociclistas dessa categoria se envolveu, por imprudência, em um acidente que causou a morte de um pai de família que estava tão somente cumprindo o seu dever. A repercussão agora afeta a todos nós, porque, aos olhos da sociedade, somos todos irresponsáveis que ceifam vidas gratuitamente. E não é apenas a questão da imagem, mas do impacto que essas ações têm em outros âmbitos também.

Veja o seguro, por exemplo: o que paga para ter seu bem protegido tem seu valor calculado levado em consideração diversos fatores - acredita mesmo que ações irresponsáveis como essa ou a postagem de vídeos no YouTube acelerando as motos nas estradas a 299 Km/h não afetam esse valor? Ou, então, "rachas" documentados em vídeo, fornecendo incontáveis razões para sermos todos classificados como "bandidos"? Até mesmo ações como a compra de peças de reposição de procedência duvidosa têm seu impacto nesses cálculos, porque se entende que, dessa forma, estaríamos alimentando a indústria do roubo e, por consequência, nos colocando na mira desses mesmos bandidos. Amanhã sua moto pode ser levada para suprir de peças o mercado paralelo. Ou será que você acredita que somente a moto dos outros é roubada? E em Papai Noel, você acredita?

A questão do seguro é apenas uma das facetas. Olhe à sua volta e veja como interage com o mundo, enquanto motociclista. Todos os nossos gestos, a ação que tomamos, as palavras que proferimos e até o que pensamos afetam nosso mundo de liberdade e confraternidade. Precisamos, mais do que nunca, prestar muita atenção a tudo o que pode afetar nosso meio, que tanto amamos. Não permita que atitudes impensadas dominem sua rotina - amanhã estaremos todos padecendo as consequências.

- A vida em primeiro lugar.

- Pilote sempre equipado.

E plagiando uma célebre frase:

- Não pergunte o que a moto pode fazer por você, mas o que você pode fazer pelo motociclismo!


Este texto foi extraído da revista Moto Adventure - Ano 9 - maio/2009 - número 102 - pag. 182.

Autor: Nenad Djordjevic

Nenad Djordjevic é campeão brasileiro de motovelocidade, piloto de testes e instrutor do curso de pilotagem Performance Professional Riding, para motociclistas.

Fonte: velhinhosmotoqueiros.com

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