quarta-feira, 11 de maio de 2011

A ARTE DE PILOTAR EM BAIXA VELOCIDADE



(texto publicado originalmente na HOG Magazine, ISSUE 22 - January-2011, “Taking it Slow – the fine art of riding a big bike at low speeds”. Tradução livre de Carlos Gityn Hochberg).

Muitos de nós já vimos aqueles vídeos de policiais norte-americanos, em Electra Glides, fazendo manobras no meio de cones, em competições muito apreciadas lá em cima. Estas competições são levadas muito a sério e realmente têm uma plástica toda própria. Aqui no Brasil damos pouquíssima atenção a este conjunto de técnicas e, paradoxalmente, nós, que pilotamos motos pesadas, dificilmente nos preocupamos com elas.

Sempre vemos gente “andando” com a moto na hora de manobrar (os americanos chamam isto de “duckwalking”, ou “andar como um pato”, que é uma imagem bem fiel disto). Além da falta de elegância, há o indubitável atestado de incompetência ao pilotar a moto. Um amigo meu riu quando eu disse que iria fazer o curso de baixa velocidade: “Você vai pagar só pra andar devagarinho?” Pior que a ignorância é a ignorância da ignorância…

Pilotar uma moto pesada em baixa velocidade e fazendo curvas é difícil. Há toda uma técnica envolvida, e não é pouca. E conhecer estas técnicas é importante, mesmo que seja somente para nos salvar do vexame de derrubar nossos “caminhões” a 5 km/h, normalmente na frente de uma grande platéia. Pilotar devagar e em linha reta não é a parte mais difícil. Pilotar em baixa e, ao mesmo tempo, fazendo curvas é que traz um monte de emoção à tona. Com a técnica própria, paciência e treino, podemos, em pouco tempo, fazer a maioria das manobras do pessoal que participa dos concursos lá fora.

Assista e aprenda

Assistir aos vídeos dos policiais americanos naquelas exibições/competições é bem instrutivo. O pessoal é “profissa”. Há diversos vídeos destes no Youtube, por exemplo, e dá pra ver como os caras usam o corpo nas manobras. Em baixas velocidades, eles “deitam” a moto para dentro da curva e o corpo para fora dela. Desta maneira, eles equilibram o conjunto e permitem que a moto deite mais e, em conseqüência, as curvas podem ser feitas mais “fechadas”, sem que o conjunto tombe.

Observe, também, que eles sempre viram a cabeça para onde querem que a moto vá. Isto é importantíssimo em baixas velocidades.


Diminua, olhe, empurre e acelere

Nos cursos Rider’s Edge e outros oficiais da MSF (Motorcycle Safety Foundation – é uma fundação que estuda o assunto de segurança em pilotagem de motos e desenvolve curso, material didático, etc. para motociclistas e motoristas), é ensinada a técnica do “diminua, olhe, empurre e acelere” para se fazer curvas. Em curvas de baixa velocidade, bem “apertadas”, o processo é similar, mas é interessante dividir este processo em suas etapas e analisá-las uma a uma.

Diminua

Ao preparar-se para fazer uma curva lenta e apertada como, por exemplo, um retorno a 180º, não diminua a velocidade antes do que é realmente necessário. Motocicletas perdem estabilidade ao diminuírem sua velocidade e, portanto, manter um pouco mais de velocidade o ajudará a mantê-la mais ereta e equilibrada. Aproxime-se da curva a uma velocidade que você não necessitará frear dentro da curva.

Olhe

Talvez nem precise ser dito, mas a primeira parte de “Olhe” requer que verifiquemos se é seguro e permitido fazermos a tal curva a 180º. Verifique se o tráfego permite e se não há obstáculos ou resíduos na trajetória pretendida. Verifique também se você tem uma folga para a manobra, caso a curva não seja executada tão apertada quanto você desejava.

Caso haja degrau no acostamento, cascalho profundo ou outro perigo, talvez seja melhor ir mais para a frente e achar um lugar melhor para virar.

Ao preparar-se para efetivamente virar a moto, vire sua cabeça na direção da curva. Olhe para onde você quer ir na curva e não para a frente de sua moto. Isto é importante em qualquer curva e em especial em um retorno a 180º. Mantenha a cabeça erguida e os olhos nivelados e, caso necessário, vire os ombros também, para que sua cabeça guie seu corpo e moto em um arco suave contínuo.

Empurre

Para começar a curva, empurre o lado do guidão de DENTRO da curva. A isto se chama “contra-esterço” (é um efeito MUITO importante quando se pilota motos pesadas) e ele irá inclinar a moto para dentro da curva, na direção em que você quer ir, iniciando a curva. Em baixas velocidades, após a moto inclinar-se, o guidão deve ser revertido do contra-esterço, com a roda, agora, apontando para dentro da curva.

Para conseguir uma curva bem apertada, jogue seu peso para o lado DE FORA da curva (mais sobre isto adiante), apoiando-se na pedaleira de fora ao começar a virar.

Acelere

Um dos aspectos menos compreendidos e mais importantes de curvas em baixas velocidades é, talvez, o menos intuitivo: manter uma velocidade constante na curva. Mantenha o motor girando um pouco acima da marcha lenta, em rotação constante, e controle sua velocidade “queimando” a embreagem.

Se você percebe que está tombando para dentro da curva, seu instinto pode ser o de desacelerar a moto, mas isto só irá PIORAR a situação. Em vez disto, ACELERE um pouco e a moto se equilibrará novamente, ajudando-o a completar a curva sem ter que tocar o chão com o pé, o que pode ser perigoso. Enquanto completa a curva, acelerar um pouco irá reendireitar a moto enquanto você vai em direção oposta.


Incline-se para fora e não para dentro!

Em corridas, em curvas de alta velocidade, os pilotos normalmente jogam seu corpo para dentro da curva, em uma maneira tão extrema que normalmente arrastam os joelhos na pista (uma manobra conhecida como “pêndulo”). Esta manobra move o centro de gravidade do conjunto moto-piloto em direção ao centro da curva e permite que façam curvas inclinando menos a moto em altas velocidades.

Em curvas de baixa velocidade fazemos o contrário. Precisamos aumentar ao máximo o ângulo de inclinação da moto – assim, diminuímos o raio da curva. Pilotos experientes transferem seu peso para o lado de fora da curva. Não é necessário transferir muito peso para o lado de fora – um pouquinho já ajuda muito. Mas, pilotos experientes, como aqueles das competições em baixas velocidades, podem fazer isto de maneira realmente dramática.

Para fazer curvas bem apertadas a baixa velocidade, levante totalmente do banco e deslize para a parte de fora da moto. A maior parte de seu peso deve estar apoiada na pedaleira de fora da curva. Esta técnica de “contrapeso” permite que você incline a moto bem mais do que normalmente faria e o raio de curva diminui consideravelmente, sem que haja necessidade de mais força centrípeta para manter o equilíbrio.

Nem sempre, entretanto, é necessário ou desejável fazer curvas muito apertadas. Por exemplo, em estacionamentos, você pode achar que a melhor maneira de manobrar sua moto é com os pés no chão. Muitas vezes esta é a melhor maneira de estacionar a moto, mas não sem seus riscos – alguma prática é necessária.

Normalmente, motos grandes caem ao serem manobradas ao estacioná-las ou sair de estacionamentos. Manobrar uma moto de ré pode ser complicado, ou mesmo impossível se há um aclive atrás da moto…. Evite o erro do principiante de estacionar sua moto de frente em uma descida e sem espaço para uma manobra que a possa tirar desta situação desagradável. O melhor, caso esteja em uma descida, é melhor estacionar de ré – aí você sai de frente, usando o motor, claro.

Ao estacionar de ré, não vire muito sua cabeça para trás. OK, os instrutores normalmente dizem para você girar bem a cabeça para trás. Mas, ao fazer isto, você pode, sem querer, também virar ombros e tronco, deslocando o centro de gravidade do conjunto e o desequilibrando. E, caso sua moto comece a cair, você não estará na melhor posição para aprumá-la novamente.

Antes de ir para trás, tente colocar a moto em uma posição em que você se deslocará em linha reta em vez de ter que virá-la indo para trás. Vá devagar. Você precisará usar o freio dianteiro para controlar a moto ao ir para trás e tenha em mente que, se usar muito freio dianteiro enquanto estiver fazendo uma curva, mesmo que suave, a tendência é que a freada tenderá a incliná-la ainda mais. Portanto, freie suavemente e mantenha a moto o mais ereta possível.

Caso você se encontre naquela situação desagradável de estar estacionado em um declive e a única saída é ir para trás, não tenha receio de pedir ajuda. Peça ao seu garupa ou amigo motociclista ou mesmo a alguém que esteja perto que o empurre devagar e com cuidado para trás, até que você alcance um posicionamento que permita que você saia de onde está com meios próprios.


Caso você seja baixo, manobrar sua moto com os pés no chão é aquela situação em que você perceberá se a moto serve ou não para você. Caso você mal consiga encostar com os dedos do pé no chão, sua capacidade de manobrar a moto apropriadamente (ou mesmo equilibrá-la, caso ela comece a tombar) será muito limitada. Lembre-se: bancos e suspensões mais baixas podem ser obtidas no mercado para melhorar seu conforto e capacidade de manobra.

Na prática

Como em tudo na vida, a melhor maneira de melhorar estas habilidades é praticando-as. Procure algum estacionamento vazio e marque um círculo de 8 m de diâmetro (nós usamos bolinhas de tênis velhas cortadas ao meio). Caso você consiga fazer duas curvas consecutivas dentro do círculo, você estará melhor do que os alunos que fazem o curso “Rider’s Edge Skilled Rider Course” (curso para motociclistas avançados, em tradução livre). E pratique em ambos os sentidos, horário e anti-horário. Curvas em sentido horário podem ser mais difíceis, já o acelerador está na mão direita, que estará bem perto do corpo, dificultando o uso do mesmo.

Você ficará surpreso em quão rápido suas habilidades melhorarão com apenas um pouco de prática (supondo-se que você use a técnica correta, claro). Melhor ainda, faça um curso credenciado (não temos isto aqui no Brasil…) com bons instrutores.

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