segunda-feira, 12 de março de 2012

MOTOCICLISMO ENGARRAFADO



Como sempre, quando ando por aí, gosto de parar em postos de abastecimento. Fico parado, papeando com um e outro, ovindo historias dos caminhoneiros e contando as minhas. muitas vezes encontro um saudosista das velhas estradas e aí sim, ficamos até horas papeando.

No final do ano, descendo a serra para o litoral norte de São Paulo, acompanhando meu filho que seguia a frente de carro, paramos num posto para deixar o cachorro andar um pouco. Haviam cinco motos paradas, parei ao lado delas e logo entabulamos conversa com os motoqueiros.

Por uma coincidencia havia um que era conhecido e em dado momento ele perguntou, porque eu sentia tanto a falta da velha estrada, da velha escola, do velho motociclismo. Segundo ele, nada mudara, apenas hoje havia mais estrutura para o motociclista., de resto era exatamente igual a sempre.

Pois bem, pensei comigo que razões levara ele a pensar daquela forma, e comecei a enumerar as diferenças :
Tinhamos motos porque gostavamos de montar, desmontar, consertar e andar. Nunca tinhamos motos para mostrar a ninguem. Primeira diferença.

As motos eram sempre usadas para superar nossos limites e os limites que encontrassemos pela frente. Hoje os motociclistas vivem dentro de garrafas, limitados por tudo que o cerca.

Nosso maior amigo era sempre nossa moto. Não buscavamos usa-la para conquistar amigos. Isso faziamos fora das motos, e se o novo amigo tambem gostasse, otimo, senão deixavamos ele de lado.

As estradas eram para serem desbravadas, exploradas e pouco nos importava que tinha um mapa que a indicasse ou não, hoje viaja-se com GPS, mapas, rotas traçadas, etc..
Nossa roupa era a mesma de ida e volta, até porque os consertos na estrada eram comuns. Hoje viajamos com o cartão do seguro no bolso e o celular no outro.

Sabiamos que estavamos saindo, nunca esperavamos retornar..quando retornavamos era lucro. Hoje, o medo ja começa ao sair e usa-se tantas proteções que nem sei como ainda conseguem morrer motociclistas.
Não tinhamos regras e cada um curtia a liberdade a seu modo, mesmo em grupo. Hoje viaja-se com mais regras que a empresa onde trabalhamos ou o país onde vivemos.

Outros motociclistas tinham duas classificações : amigos ou inimigos. Se compactuavam conosco eram amigos e bebiamos juntos em qualquer boteco. Se não eram inimigos e fazíamos de tudo para deixar suas motos queimando na beira da estrada.

Deviamos cumplicidade e irmandade, apenas e tão somente aos membros do nosso clube, e amizade apenas aos clubes que faziam parte do nosso circulo, os demais eram inimigos até provarem o contrario. Hoje parece festa de igreja, sem contar a falsidade que impera.

Nossos encontros eram feitos em clareiras a beira da estrada e só aberto aos que sabiamos serem amigos, qualquer outro era escorraçado, aliás, nenhum era louco de aparecer mesmo.
Pouco nos importava onde iriamos pernoitar, ou comer. Desde que houvesse nos alforges wiski ou cerveja quente em qualquer boteco, paravamos e por ali mesmo dormíamos.

Não haviam regras, normas, limites, nada, apenas a liberdade...a mesma liberdade perdia atualmente.
E assim ficamos ainda por alguns bons minutos, comentando as diferenças. No final do papo, nos despedimos com a certeza em ambos de que nada mudou mesmo, apenas são epocas diferentes, onde quem não viveu a chamada época áurea do motociclismo, não consegue parametrar as diferenças, e continua sendo bom hoje como foi ontem.....mesmo que seja a época do motociclista engarrafado.

Ghan

Black Horse Brazil

Um comentário:

  1. Tenho duas observações a fazer: A primeira, é que o progresso da humanidade implica em mudanças estruturais, e a violência ficou institucionalizada. As guerras da idade antiga era feita com arco e flecha e hoje é só apertar um botão que explode tudo. As gangues brigavam com punhais, os bandidos de hoje estão mais armados que a polícia... O cidadão de hoje tem que se preparar para qualquer coisa, não dá para sair sem destino, tem que avisar a mulher onde vai, não esquecendo de lembrá-la onde estão guardadas suas senhas, caso não volte mais.

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