segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A AMIZADE, OS MOTO CLUBES E O DIREITO CIVIL

Caros amigos incidentais, companheiros de jornada, amigos de motoclube, usuários de veículos de duas rodas, gente diversa e versada em discutir sobre como desfrutar da motocicleta (e de como consertá-la às vezes), das viagens, dos relacionamentos em grupo, e de nós que driblamos os problemas da vida pilotando e fazendo parte da paisagem, bem vindos à vida.


Eu vou começar falando de direito civil, o pouco que entendo, aprendido por osmose em escritórios de advocacia, além dos cursinhos preparatórios para concursos. Na vã tentativa de fazer um estatuto para o moto clube a que pertenço, fui pesquisar nas leis das quais ainda lembrava, tentando quase desesperadamente enquadrar os motoclubes nas regras de associações, até mesmo para facilitar explicação do texto que havia reformado. Ainda não consegui.

Mas posso dizer pela minha pequena experiência que, há algo que acontece no funcionamento dos motoclubes que os tornam uma figura jurídica muito peculiar, “sui generes”, como denominado no latim e no jargão do direito. Há elementos de organização que dependem da bondade de cada membro, já que ninguém é obrigado a ajudar aos membros/conhecidos, muito menos a um estranho. É uma entidade que depende mais do coração do que das leis...


E por falar em ajuda, eu devo confessar que entrei no meio motociclístico acolhido pela bondade dos motociclistas que conheci ao longo desses quatro anos, os quais são, agora, minha terceira família. Muitas vezes até pensei em desistir e andar só pelas estradas que eu sentisse confiança em rodar. Mas a cada dia que passa e a cada novo amigo que faço, que reconheço entre tanta gente no mundo, me convenço mais ainda que encontrei o meu lugar.

Tento nunca rejeitar uma mão estendida e posso dizer de peito aberto, nos meus trinta e oito anos, encontrei várias. A maioria na hora certa. Mas nunca tinha encontrado tanta gente disposta a ajudar ao mesmo tempo. A literatura que trata dos grupos urbanos sempre se refere a afinidades, aos desejos e gostos em comum, música, esportes, vestimentas, como o motivo pelo qual esses grupos surgem e fator também de dissolução dos mesmos assim que a afinidade acaba. Mas até participar de um motoclube não tinha vivenciado essa experiência de união.


Recentemente, ao voltar do Moto Chico de Petrolina, recebi uma lição de humildade para ter ainda mais certeza do que escrevi acima. Viajando em dupla, posto que mais nenhum dos meus irmãos de clube pôde ir, posso dizer que foi uma viagem meio atrapalhada no inicio. Pela manha chovia muito e a visibilidade era ruim, já que saímos nas primeiras horas da manhã. Doze horas e vinte minutos depois tínhamos atravessado setecentos e sessenta e dois quilômetros, sem nenhum incidente. É o Criador cuidando do equilíbrio universal, e dispensando um pouco de energia aos esforçados.

Mas foi na volta onde corremos muito perigo. O pneu dianteiro da motocicleta do meu companheiro de viagem furou. Então ele sacou um reparo instantâneo para pneu, mas não funcionou, posto que o a câmara rasgou rente ao pito. A partir desse momento eu tive realmente medo. A estrada onde estávamos cortava o “xique-xique” e nem mesmo tinha sinal o celular. Eu não podia acreditar que isso aconteceria no momento onde começássemos a tomar o caminho de volta, em pleno domingo.


Mas, como eu disse no início, os motoclubes são entidades atípicas. E nesse momento de aflição, onde o perigo é iminente e não se consegue pensar em muita coisa a não ser em como pedir socorro, é que surgem diversas mãos para nos socorrer. E, como várias cabeças pensam melhor que uma, tentamos varias soluções até reunirmos as condições necessárias para, com poucas ferramentas e muita boa vontade, sanar o defeito e seguir viagem, agora num comboio, e, portanto, mais protegidos. Engraçado como a ajuda chega sem ao menos termos pedido.

Pessoalmente tinha passado pelo mesmo sufoco há um ano, mas a ajuda veio do meu próprio grupo. Um membro do meu motoclube sacrificou o domingo com a família para dirigir durante quase dez horas e ir buscar minha motocicleta com o motor batido e eu. Mas, na situação anterior eu me encontrava em uma cidade, não no meio da caatinga.

No caminho, ajudamos outro motociclista com problemas, que havia sido deixado para trás por um grupo não identificado ao qual pediu a companhia, foi acolhido pela compaixão presente nos homens que também estavam me ajudando. Coisa típica de moto clube. Atitude de pessoas inclinadas a ajudar os outros. Seja de que jeito for, é assim que somos, sem unanimidades, sempre com paradoxos. Há outros extremos. Acontece em todo grande grupo. Sem queixas nem mágoas, eu fico do lado daqueles que acreditam que “o melhor exercício para as costas, é inclinar para ajudara levantar quem está caído”.


Texto: Joel Gomes
Colaboração: Rafael Henrique
Edição: Cleyton Silva

Agradecimentos: numa tentativa quase desesperada de homenagear os mais novos membros da minha terceira grande família.


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