segunda-feira, 18 de junho de 2012

COMO NASCE UM BIKER E AS MANGUEIRAS DO INTANKE AIR DO COLETOR

Caros amigos, companheiros de jornada, amigos de moto clube, usuários de veículos de duas rodas, gente diversa e versada em discutir sobre como desfrutar da motocicleta, e de como consertá-la as vezes, das viagens e dos relacionamentos em grupo, e de nós que driblamos os problemas da vida andando de motocicleta, bem vindos a vida.

Eu me atrevo a falar de nascimento em pleno dia dos namorados para registrar a minha decepção com alguns seres humanos. Sim, a minha cadela, Libra, quase nunca me decepciona. Já das assistências disponíveis no Brasil, não é possível dizer o mesmo. Todas elas. Desde a assistência social aos pós-venda, grande empecilho a compra de um produto que parece muito bom, porém recém-lançado, se mostram ineficientes ineficazes e refletem no mal atendimento os baixos salários.


Dentro de mim, que sequer consegue segurar uma chave de fenda e desprender um parafuso, está nascendo um Biker. Informalmente, posso dizer que ser um cara desses faz de você alguém que tem conhecimento, know-how, e pode ele mesmo consertar sua motocicleta. Até modificá-la se assim o desejar.

Não que eu tenha chegado num estado assim tão avançado. Estou em minha segunda motocicleta, não entendo nada sobre elétrica, estou livre de padrões de estética-moda-estilo, e os problemas de coluna me colocam no lugar de uma criança em desenvolvimento: incapaz de carregar qualquer peso. Alem disso a mecânica me é tão intocável quanto a estatística.

Mas quando você faz as manutenções corretas em sua motocicleta, presume-se que não haja grandes desgastes. Ate o momento em que dois rolamentos que realmente precisam ser trocados possam lhe custar ¼ do seu salário, e você cai na real: Deve ter algo que você mesmo possa fazer para que o custo de manutenção diminua. E não importa se falamos de uma cinquenta cilindradas ou uma hayabusa.

Lembro também de um conto, acho que do Paulo Mendes Campos, que tratava da busca por uma oficina que resolvesse o problema do seu carro, onde cada uma das oficinas consultadas encontrava uma solução paliativa diferente. Ate o momento onde ele mesmo decide procurar o defeito consultando o manual e os livros de um cursinho de mecânica por correspondência que ele fez a muitos anos, encontrar um fio fora do lugar, colocá-lo, e o defeito do carro não voltar a aparecer.

Não foi esse exatamente o meu caso, mas, ao baixar um manual para manutenção da minha Kansas 250 eu percebi que não precisava comprar duas das cinco peças que me foram solicitadas. Ate o som do ronco do motor mudou. Eu posso trocar peças, apertar parafusos, limpar as partes pelo lado de dentro. Não há tantos mistérios assim.

Emendar uma mangueira um pouco gasta parece-me mais fácil do que colocar um pedaço de outra mangueira em “ligação direta”, posto que o espaço para se fazer isso é bem pequeno. E eu não sei como alguém que trabalha consertando motocicletas tem esse excelente ideia: uma das duas mangueiras do coletor estava gasta, então, vamos desconectar as duas e colocar um pedaço em ligação direta, pois assim não fará barulho e o cliente não vai perceber...

Mas eu sou inteligente e me orgulho disso. E mesmo já tendo comprado a motocicleta com essa maravilhosa adaptação técnica, as duas mangueiras soltas sempre me inquietaram. Não parecia lógico que uma motocicleta fabricada a apenas três anos tivesse partes que se soltassem e não causassem nenhuma mudança.

Quando comecei a tentar resolver os problemas dela foi por não entender como uma esponja circular pudesse custar oitenta reais. Mas depois de hoje, depois de ler o manual, de limpar e instalar novamente o coletor, de regular o parafuso do carburador, eu vejo que o usuário tem de entender alguma coisa. Tem que, ao menos, saber onde é o local das peças, por que se alguma soltar, ele mesmo poderá substituir.

No ritmo de vida que levamos, casa-trabalho-faculdade-casa, fazer você mesmo manutenção preventiva em seu veiculo me parece pouco provável. Mas se você não compra um jogo de chaves hallen e retira uma vez na vida a tampa do pinhão, ou mesmo do filtro de ar, não vai nunca saber que a limpeza dessas partes pode ser feita por você, de uma maneira rápida, com água, detergente e um trapo.

Acordei todo quebrado, com dor nas costas, no ombro direito e nos dois punhos, mas quase satisfeito. E a ideia de escrever este texto foi por que alguns falam que minha motocicleta não está sendo cuidada devidamente, talvez por que eles mesmos já passaram pela fase que acabo de entrar: a da descoberta do que tenho na garagem, assim como uma criança que descobre o próprio corpo, naturalmente.


Joel Gomes – acadêmico das ciências sociais, do motociclismo e do moto clubismo; biker em formação; colaborador e membro do Brokk MC, para o blog Sem Fronteiras (jotagomes@gmail.com)

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