quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A ALEGRIA DE SER ACEITO


A alegria de ser aceito traduzida em momentos e a intensidade das coisas

Caros amigos, companheiros de jornada, amigos de moto clube, usuários de veículos de duas rodas, gente diversa e versada em discutir sobre como desfrutar da motocicleta, das viagens e dos relacionamentos em grupo, e de nós que driblamos os problemas da vida andando de motocicleta, salve.


Não sei bem por onde começar, pois acho muito difícil quando o objeto de estudo sou eu mesmo. Observar o “campo” e detalhar o comportamento alheio é bem mais usual. Mas o que eu queria falar aqui era sobre a noite de minha promoção. É, promoção... Palavra bonita de se ouvir, principalmente quando o promovido sou eu mesmo.

Uma noite muito especial e muito importante para mim, e nessa situação me encontro com a responsabilidade de descrevê-la para todos os que não estavam presentes, e para deixar algo escrito para a posteridade. Lembrando que esse é apenas um lado da história, já que “Toda história tem três lados: o meu, o seu e a verdade. E ninguém está mentindo”, como diria Robert Evans.

Eu realmente fiquei muito feliz pelo meu prêmio, digo prêmio por que a gangue (no sentido antropológico) a qual pertenço costuma dar valor aos mais esforçados, e no meu caso, sou um colaborador antigo, desde a época de visitante. E o meu brasão de membro pode sim ser considerado um prêmio, pelo valor simbólico e pelo valor sentimental que ele carrega, e também pela forma como um brasão é conquistado.

Mas, feliz é uma palavra só e que não traduz o que eu senti. De uma forma ou de outra, todos estávamos felizes. E a felicidade é um momento, já pertencer a um grupo com o qual você se identifica, espero que dure até eu não poder mais pilotar. Eu estava repleto. Completo. Vestido. Vivo. Como exemplo, posso citar um amigo, que ao entrar na polícia precisou tirar o bigode e se sentiu nu. Eu, obviamente usando meu colete completo, estava enfim vestido.

Combinamos todos de fazermos uma festa, com o maior número de participantes possível. Entre membros, prósperos e visitantes estamos chegando aos 25 participantes, e para que a festa fosse animada o ideal era que todos viessem. Mas o mau tempo e alguns problemas pessoais impediram a chegada de alguns dos nossos. Um dos meus amigos, alguém que tinha a obrigação de estar ao meu lado, esteve impedido de comparecer. Infelizmente.

Ainda assim a festa teve início, e como estava combinado, improvisou-se uma banda, churrasqueira, microfones, vocal e backing vocal, guitarrista, baterista, percussionista, dançarinos, tudo exacerbado de nós mesmos e organizado aleatoriamente entre uma caixa de som, dois microfones, um violão, muito boa vontade e algumas cadeiras ao lado de uma churrasqueira. Chovia muito, mas estávamos todos animados, afinal, muitos de nós iam ser promovidos.

Não posso falar do que se passava no coração de nenhum deles, mas ao menos no semblante, estávamos extasiados. A febre e as dores de cabeça e corpo ainda atrapalhavam o meu sorriso, mas ainda assim eu estava lá, sentado como quem espera, a tremer por dentro, pronto para redigir umas cinco páginas, mas sem nenhuma palavra para dizer ao microfone.

Como pode alguém que tem tanto a dizer em textos, no momento de sua promoção, do reconhecimento de seus trabalhos e de sua dedicação ao grupo, da realização de seu desejo e de alguns dos demais, não conseguir dizer nada? É que sou pura emoção, e parafraseando meu poeta predileto, Augusto dos Anjos, nos versos finais de A Idéia:

“Vem do encéfalo absconso que a constringe, Chega em seguida às cordas do laringe, Tísica, tênue, mínima, raquítica ... Quebra a força centrípeta que a amarra, Mas, de repente, e quase morta, esbarra No molambo da língua paralítica.”

Acho que isso resume minha dificuldade de falar em publico, assim como o poeta pré-moderno afirmava ser complicado escrever. Então eu afirmei que a nossa frase-tema “forjando, no aço, amigos para a estrada” era levada a serio e executada por nosso grupo, e que eu estava muito feliz de fazer parte dele. Nem mesmo me atrevi a esboçar um discurso. O nervosismo imperava. Agradeci a todos também.

E agora? A partir de 20 de janeiro de 2012 sou considerado membro. O que exatamente mudou? Aumenta-se a chance de participação no grupo, a possibilidade de ajudar permanece a mesma, praticamente. Parece paradoxal. Mas ai deve-se incluir que, a partir de agora é público, para o meio moto ciclístico e para quem não for do meio, quando eu passar com o meu colete, vestimenta identificadora oficial, segunda pele para alguns de nós, escudo em algumas interpretações, serei considerado de algum lugar, de algum meio, de algum território. Um símbolo de pertencimento. Uma tribo. Minha tribo.

E quem não quer sentir que pertence a algum grupo ou lugar?


Joel Gomes – um ser humano feliz, acadêmico das ciências sociais, motociclista, colaborador e membro do Brokk MC, para o blog Sem Fronteiras

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