Introduzindo
Caros amigos incidentais e acidentais, amigos de todos os lugares, de moto clube ou não; usuários de veículos de duas rodas, gente diversa e versada em discutir sobre como desfrutar da motocicleta e de como mantê-la em bom funcionamento; gente que pode falar das viagens, dos relacionamentos em grupo, e dos que driblam os problemas da vida pilotando e fazendo parte da paisagem, saudações.
Antes de tudo eu gostaria de dizer que esse texto, ou qualquer outro que tenha postado, não tem a pretensão de resolver os problemas da sociedade. Nem mesmo servir com referencial teórico para explicar algum fenômeno. Não sou tão pretensioso. Mas gostaria de levantar a discussão acerca do tema.
Um dia ruim
Sempre que algo me toca profundamente, sento-me para escrever. Se é a paixão que me atordoa, costumo produzir sonetos. Mas se a impotência perturba o meu equilíbrio, o texto sai em prosa, com exceção do meu amor pelas motocicletas, que me remete aos textos mais longos e é onde tenho mais espaço e possibilidade de descrição das situações. A poesia te dá fotografias, o texto em prosa, um filme inteiro.
Hoje foi um dia até certo ponto tranqüilo, mas tinha mesmo que acontecer algo para, digamos assim, estragá-lo um pouco. E não foram os problemas do cotidiano que me atormentam, mas sim a frieza de algumas personagens por trás dos volantes dos caminhões. Não posso dizer que são maioria. Por diversas vezes pilotei ao lado de motoristas que se afastaram para que eu passasse com minha motocicleta. Porém, como acontece nas ocasiões diárias enquanto estou motoqueiro, por volta do meio-dia, levei um “tranca” após passar uma lombada eletrônica de 50 km/h, de um caminhão cujo condutor pode até não ter me visto, mas com certeza me ouviu buzinar, quase do lado da sua cabine.
Estava devagar por ter acabado de passar pela lombada e pelo costume mesmo. Ando por volta dos 90 km/h e não costumo ter pressa nem disputar espaço na via, mesmo que tenha condições de passar primeiro acelerando forte, prefiro reduzir. E hoje fui obrigado a parar próximo do meio fio. Não sei bem como analisar essas situações, mas acredito que sempre temos escolha até antes do acidente acontecer. Exceto nos casos de falha mecânica, que não são poucos. Outro dia algum motorista despossuído de empatia tentou fazer uma ultrapassagem à noite, numa via escura, num declive antecedido por uma curva, e eu, que vinha no sentido contrário, tive que procurar o acostamento.
São várias as situações desfavoráveis que afetam significativamente a utilização dos veículos de menor porte, ou de menor energia cinética, como se refere, às vezes, um motoqueiro professor de mecânica. E essas situações são bastante graves por que dentro da máquina está um ser humano, o que transforma o acidente de transito em um problema também sociológico.
Dos acidentes
Muito se discute a respeito da gravidade dos acidentes envolvendo motocicletas e motociclistas, mas pouco se discute sobre as responsabilidades sobre esses acidentes. As campanhas dos DETRANs já têm sua resposta: a culpa é nossa, motociclistas, motoqueiros, ser humano usuário de veículos de duas rodas. Então eu pergunto: o carro/van/caminhão/ônibus também não contém em seu interior outro ser humano? Em caso afirmativo, no alto da minha ignorância eu poderia supor que os acidentes seriam, então, problemas dos seres humanos, já que entendo o trânsito como um cenário maior.
Então, finalmente, depois de muito se falar e não se chegar a lugar nenhum, de quem é a culpa? Existe mesmo um culpado? É só uma das partes evolvidas? Acredito, como motociclista, como ser humano e futuro sociólogo que a resposta não esteja tão a vista e que a pergunta tem sido mal formulada. A sociedade é complexa demais para permitir respostas tão simples. O trânsito é composto de inúmeras situações, objetos e usuários para revelar apenas um único culpado. E tem gente que tem culpa, mas não aparece no cenário do acidente.
Muita gente poderia dizer que, como os acidentes envolvendo motocicletas são mais graves, a culpa é da imperícia do piloto. Eu mesmo já pensei assim, mas essa é uma resposta simplista, uma acusação que piora ainda mais a situação da parte que geralmente mais perde com o acidente. Sem eximir ninguém de sua responsabilidade, o cenário do acidente tem mais pessoas envolvidas do que imediatamente se pode perceber....
Continua
Joel Gomes – acadêmico das
ciências sociais, motociclista, colaborador e Vice Presidente do Brokk MC, com
a colaboração Rafael Henrique e apoio nos textos de Fabio Magnani, para o blog
Os Sem Fronteiras http://migre.me/aAtWm (jotagomes@gmail.com)
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