terça-feira, 26 de abril de 2011

Quando as mãos falam




Depois de aprender como as pernas e pés atuam na pilotagem (aqui), chegou a hora de conhecer o papel das mãos na pilotagem. Olhe bem para seu corpo: os músculos das pernas são mais fortes, longos e resistentes, porque foram feitos para fazer a parte pesada da locomoção. Já as mãos têm o papel delicado e preciso dos movimentos. Enquanto as pernas e pés executam a parte “grossa” da pilotagem, são as mãos que fazem a “sintonia fina”.

Uma das técnicas mais precisas e rápidas para deslocar a trajetória de uma moto é o contra-esterço. Muitos motociclistas já praticam esta técnica intuitivamente, sem perceber. A história toda começa na Física aplicada. Existe uma regra fundamental chamada ação e reação, também conhecida como “terceira Lei de Newton”. Diz o seguinte: a cada ação corresponde uma reação de igual intensidade em sentido contrário. Isso nos faz lembrar aquelas aulas da escola, que muitas vezes nos perguntamos “mas pra quê estou estudando isso?”. A resposta vem agora: para pilotar motos.

Imaginando uma moto seguindo normalmente em linha reta, se o piloto precisar desviar para a direita, ele pode usar o corpo, inclinando a moto com ajuda dos pés e joelhos, mas pode também usar as mãos e o desvio será muito mais rápido. Basta empurrar o guidão para o lado contrário da direção para onde se quer ir. É a tal ação, que vai provocar uma reação de igual intensidade em sentido contrário.

Continue o exercício mental e imagine que o piloto terá de empurrar o guidão com a mão direita para a esquerda. A reação será uma imediata inclinação de toda a moto para o lado direito. Teoricamente esta técnica parece uma grande complicação, mas depois de alguns exercícios, você verá que funciona e vai passar a usá-la tão naturalmente que nem vai lembrar o que é esquerda e direita.

Ainda sobre desvio de trajetória, no momento que o motociclista encontra um obstáculo pela frente e precisa desviar, jamais deve olhar fixamente para o obstáculo, mas sim para o lugar onde quer passar, ou seja pela rota alternativa. Lembre que seu cérebro é um ótimo computador, mas precisa ser programado. Ele funciona pelo sistema binário, pois sempre reage a uma das duas opções: sim ou não. Se você olhar atentamente para o buraco, muito provavelmente vai passar por cima dele e ainda se xingar por não ter conseguido desviar.

Na curva

A técnica do contra-esterço é muito usada nas pistas, principalmente nas curvas de baixa velocidade, onde o piloto precisa contornar a curva sem deixar cair muito o giro do motor. Nas ruas e estradas a técnica do contra-esterço produz uma reação rápida, eficiente e segura, e depois de algum treino pode-se fazer isso tão naturalmente quanto trocar de marcha.
Usa-se o contra-esterço nas curvas para corrigir a trajetória sem desacelerar. Como a moto precisa de aceleração nas curvas, quando o piloto percebe que está “alargando” a trajetória, pode apenas apoiar o peso do corpo na mão no lado interno da curva que a correção será imediata. Aliás, se quiser esquecer esse negócio de “contra”, basta pensar da seguinte forma: para fechar mais a curva basta forçar o peso na mesma mão do lado da curva. Em outras palavras, se quiser trazer a moto para dentro de uma curva à direita, é só apoiar seu peso na mão direita.

Quem pilota moto esportiva já faz isso sem perceber, porque os semi-guidões são feitos de forma a obrigar o motociclista a se apoiar no lado interno naturalmente. A correção, caso a moto comece a fechar demais a curva, pode ser feita de duas formas: ou aliviando o peso das mãos e a moto volta sozinha, ou forçando a pedaleira externa da curva com o pé. Exemplificando: se a curva é para direita e a moto começa a inclinar demais, o piloto pode empurrar a pedaleira esquerda.

Há quem pense que o contra-esterço só é usado nas motos esportivas e fora-de-estrada, mas nas motos custom e touring o uso dessa técnica é imprenscindível. Quanto mais pesada a moto, mais necessário é usar as mãos para pilotar. Motos como a Honda GL 1800 Gold Wing, por exemplo, com seus mais de 300 kg, exigem muita força nas mãos para enfrentar as curvas. Como a big touring não inclina muito, só com as mãos é possível manter o controle da curva.

O mesmo ocorre com as custom. Uma Honda VTX 1800, com grande distância entre-eixos e pequeno vão livre do solo, faz com que a tarefa de “dobrar” na curva seja concentrada mais nas mãos do que nas pernas, que ficam muito esticadas.

Faça a experiência do contra-esterço na reta, antes de aplicar na curva. A forma mais eficiente e rápida de mudar de faixa é com essa técnica. Experimente e nunca mais você pilotará usando apenas a cintura!

Geraldo Tite Simões – especialista em segurança de motociclista. Contato: info@speedmaster.com.br

Fonte: Texto: Geraldo Tite Simões - Fotos: Caio Mattos
Fonte: www.motonline.com.br

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