Ao pilotarmos uma moto, a maioria das preocupações reside em ter controle da máquina e se inserir no meio em que opera de maneira eficiente e segura. Acabamos por negligenciar, ou pelo menos não notar com a devida atenção, os efeitos que o ar ao nosso redor provoca quando a moto obtém movimento e velocidade. Por isso, esse mês aborda o tema com foco na percepção do problema bem como nas soluções de pilotagem disponíveis, para gerar melhor conforto e segurança para o motociclista.
Identificando a instabilidade
De maneira bem simplista, a instabilidade aerodinâmica é causada primariamente pelo deslocamento de diferentes camadas de ar. O ar quente tende a subir enquanto o ar frio tende a descer em relação a terra. Essa movimentação de camadas acaba criando correntes que também se deslocam horizontalmente. Paralelamente, existe o fluxo de outros veículos que possuem massa maior do que a da nossa moto, portanto deslocando maiores camadas de ar, afetando os arredores e freqüentemente a nossa trajetória, devido a proximidade.
A instabilidade é notada pelo motociclista como "empurrões" dados pelo ar ao nosso corpo e a moto. São diferentes daquela pressão exercida para trás que é obtida pelo deslocamento à frente, que normalmente é constante em dada velocidade em ar estável. Quando há instabilidade - que pode ser classificada em leve, moderada e severa - ela geralmente pode ser identificada através de "empurrões" curtos mas enérgicos e é mais sentida quando acontece lateralmente. Nessa circunstância também é onde oferece maiores riscos à condução, enquanto os deslocamentos de ar que acontecem no eixo de condução da moto - pela frente ou por trás - normalmente oferecem menores riscos. Esses "empurrões" são chamados de rajadas, e não se engane, tem o poder de lhe derrubar da moto ou até junto com ela se forem severas e de longa duração. Todos somos afetados, mas o formato da moto bem como seu peso tem alguma influência quanto a forma e intensidade da ocorrência. Genericamente, quanto mais leve a moto, mais é afetada, assim como quanto maior em tamanho, também mais será afetada. Pode parecer uma incoerência, mas basta analisar sob a ótica da massa que possui - quanto menor o objeto e quanto maior for seu peso, menor será a resistência do ar e maior será sua estabilidade devido a inércia. Quanto maior for, maior será a resistência ao ar e se tiver pouco peso será mais fácil inibir ou restringir sua inércia.
Geografia
Identificar lugares com maior probabilidade de concentrar ar instável é importante para poder se precaver e tomar as medidas necessárias para neutralizar os efeitos de rajadas de vento.
Fique atento a lugares que canalizam o vento como vales entre montes ou montanhas, lugares com pouca ou nenhuma vegetação mais alta - como árvores - ou qualquer lugar que possa concentrar e espremer camadas de ar - como entradas e saídas de túneis.
Esses lugares favorecem a formação de instabilidades aerodinâmicas pois favorecem a movimentação do ar em certa direção. Outro ambiente que costuma gerar rajadas é a proximidade com qualquer tipo de acumulo de água, como rios, lagos ou mar. Nessas regiões a evaporação da água é o maior responsável por essas correntes aerodinâmicas.
Da mesma forma, é preciso também estar atento à temperatura, uma vez que o ar quente é mais instável que o ar frio, que geralmente é mais denso e se movimenta com maior dificuldade. Nas épocas quentes do ano é mais comum acontecerem esses fenômenos de rajadas do que em períodos frios, quando o ar é bem mais uniforme.
Por fim, fique atento em estradas abertas com concentração de veículos grandes se deslocando em velocidade. Por mais aerodinâmicos que sejam, empurram o ar a sua volta provocando deslocamentos que podem afetar sua estabilidade no momento que passa ou cruza com eles.
Dicas de pilotagem
Um dos erros mais comuns durante as instabilidades aerodinâmicas é enrijecer o corpo e membros oferecendo maior resistência. Mantenha sempre os braços flexionados, independente da categoria de sua moto - a postura garante maior amplitude de ação com esses membros além de permitir mudança postural do tronco equilibrando o conjunto.
Já na parte inferior, mantenha as pernas bem plantadas em torno da estrutura da moto, bem como os pés bem apoiados nas pedaleiras. A ação nos comandos deve ser sempre suave mas decidida. Busque segurar com delicadeza o guidão, usando o tronco para equilibrar o conjunto moto/piloto, sempre projetando seu peso em direção ao vento que lhe empurra. Como durante essas instabilidades as rajadas são curtas e em diferentes direções, a flexibilidade corporal se torna primordial na manutenção do equilíbrio. Uma maneira de diminuir o efeito das rajadas é oferecer uma menor área de resistência, o que pode ser obtido "carenando" na moto - a maioria das motos permite que o piloto desloque seu quadril levemente para trás e aproxime o peito e cabeça da estrutura da moto, como fazem os pilotos de competição na motovelocidade.
O aspecto negativo da postura é que se as rajadas forem de moderadas à severas, podem atingir o motociclista sem que tenha percebido a tendência por estar abrigado melhor contra o vento que incide em seu corpo. Por essa razão, é prudente não andar muito tempo em posição carenada, sentindo o comportamento que o ar tem em determinada região e instância. Cuidado ao avaliar os lugares, pois aqueles que costumeiramente não tem problemas aerodinâmicos em dado momento podem vir a ter em outro - a regra deve ser de sempre observar e sentir como o ar atua em seu corpo.
O segredo é tentar antecipar como será a intensidade de acordo com as circunstâncias. Como exemplo vai usar uma estrada de pista simples e o deslocamento provocado por um grande caminhão em ambas as direções - no mesmo sentido que o seu e no sentido oposto. Fica fácil perceber o deslocamento de ar promovido pelo caminhão que está na mesma direção que você será inferior por ambos estarem compartilhando a direção de movimento, o do caminhão com que irá cruzar em direção oposta. Esse tem sua velocidade somada à sua e, portanto receberá maior carga de pressão aerodinâmica nessa circunstância. Se for prudente e o espaço permitir, mantenha-se o mais distante possível para que o impacto aerodinâmico não seja comprometedor.
Nota-se também que a velocidade tem papel significativo no impacto que as instabilidades aerodinâmicas podem causar. Quanto maior a velocidade, maior a resistência aerodinâmica e mais suscetíveis estamos à esse fenômeno. Fica portanto patente que em situações de rajadas, a diminuição da velocidade sempre será um fator gerador de segurança. Se notar que as rajadas são intensas e severas, é prudente encontrar abrigo o mais rápido que puder. Lembre-se que não é só do vento que devemos nos abrigar, mas de tudo que eventualmente ele pode carregar e nos ferir. Em viagens sempre olhe os arredores e veja o comportamento das árvores, plantas de maneira geral e também das nuvens. Uma movimentação intensa geralmente denuncia a presença de ar se deslocando em velocidade.
Outra medida preventiva que pode se adotar é verificar os boletins meteorológicos para a região com qual interagirá, agora observando mais do que a simples informação sobre a chuva - a maioria deles oferece a direção e intensidade do vento, que já é suficiente para se preparar para eventualidades. Os mais completos oferecem também informações de previsão de rajadas e sua intensidade.
Um bom motociclista é aquele que atenta aos detalhes e sabe lidar com toda sorte de eventos de maneira apropriada. Espero que esse texto lhe ajude a perceber mais uma nuance da pilotagem motociclística.
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