Carburação tem uma grande influência sobre a potência e resposta do motor. Motos novas geralmente vêm com uma carburação rica demais da fábrica. O motivo para isto é que elas são vendidas no mundo inteiro e para se ajustar o giclê para todos os tipos de terreno, clima e altitude seriam simplesmente impossíveis.
Em competições onde muitos pilotos têm o mesmo nível, uma carburação perfeita pode significar uma largada hole-shot (uma largada em primeiro lugar) em vez de comer muita poeira. A diferença entre a primeira moto e a última na largada pode ser poucos cavalos. O piloto (ou mecânico dele) que entende e cuida da carburação tem uma grande vantagem!
Então temos que mexer! O que a gente precisa? Onde começamos? Além de uma boa dose de paciência precisamos poucas ferramentas: uma chave de fenda, alguns giclês e agulhas geralmente são suficiente. Antes de começar é fundamental entender o funcionamento do carburador e desenvolver um senso de observação quando você anda.
Embaixo nos oferecemos uma guia de carburação para você.
1. Peças & Funções
Um carburador é um conjunto de peças que mistura ar com gasolina em uma medida exata sobre uma faixa de volume alterada. Para um motor 2-tempos a mistura ar/gasolina ideal e 12.5/1. Os principais componentes (variáveis) do carburador são;
· Parafuso do ar
· Ângulo do pistão do carburador
· Giclê da marcha lenta
· Agulha do pistão do carburador
· Giclê principal
Veja como estes componentes trabalham em várias faixas de abertura do acelerador.
· Fechado até 1/8 aberto - Parafuso do ar, e giclê da marcha lenta
· 1/8 até 1/4 aberto - Parafuso do ar, giclê da marcha lenta, e ângulo do pistão do carburador
· 1/4 até 1/2 aberto - Ângulo do pistão e agulha do carburador
· 1/2 até abertura total - Agulha do pistão do carburador e giclê principal.
2. Problemas Mecânicos
O processo de ajustar a carburação é simples, mas pode virar uma dor de cabeça quando outros problemas mecânicos interferem na carburação. Antes de mexer na carburação certifique-se de que o motor não tem um ou mais dos problemas a baixo.
Vazamento de ar - Vazamentos de ar podem ocorrer na base do cilindro, coletor de admissão ou retentor do rotor. Estes problemas se manifestam através de uma resposta retardada e detonação do motor.
Vazamento de óleo - Um dos dois eixos do virabrequim é banhado em óleo. Se o retentor neste lado vaza, o óleo pode entrar na câmera de combustão onde é queimado deixando a carburação rica demais, sujando a vela.
Vazamento de água - Vazamentos de água geralmente ocorre na superfície do cabeçote e cilindro interferindo na combustão do motor (falhando). Hondas e Kawasakis são sensíveis a este tipo de vazamento porque usam juntas metálicas. Sempre verifique o nível de água do radiador. Sintomas deste problema são; vapor escapando pelo ladrão do radiador e um motor que parece estar com uma carburação rica.
Válvulas de escapamento carbonizado - com o tempo as válvulas do escapamento ficam carbonizadas. Em certos casos elas podem travar, alterando a resposta do motor (deixando o motor mais fraco). Quando você retirar o cilindro, sempre limpe as válvulas com uma lixa 400. Se as válvulas estão muito carbonizadas, verifique também o escapamento e limpe o (queimando) se necessário.
Ponteira queimada - Quando a lã de vidro da ponteira queima, turbulência ocorre dentro da ponteira, afetando a desempenho do motor em alta.
Taxa de compressão correta - A maioria das motos que são importados vem com uma taxa de compressão alta preparada para um tipo de gasolina superior a nossa (com maior número de octanagem). Se você pretende usar gasolina comum de posto (não gasolina de aviação ou race gás), você provavelmente tem que reduzir a compressão até no Maximo 185 psi (pounds per square inch) para evitar detonação. A melhor maneira de fazer isto é aumentar o volume do cabeçote. Existem bons torneiros que fazem este trabalho por uns R$20. Algumas oficinas ou até representantes de motos aqui no Brasil (Agrale/Husqvarna) colocam uma ou várias juntas grossas na base do cilindro para abaixar a taxa de compressão. Embora que este procedimento seja relativamente simples não requerendo o uso de um torno, o levantamento do cilindro altera o diagrama de abertura e fechamento das janelas, comprometendo a desempenho do motor.
Palhetas trincadas ou quebradas - Com o tempo ou quando o motor é acelerado demais as palhetas podem trincar ou quebrar comprometendo o torque do motor. Uma moto com palhetas defeituosas é difícil de ligar e perde torque.
Faísca fraca - Quando as bobinas do motor ficam fracas a faísca da vela pode ficar fraca, causando falhas em alta.
Respiro do carburador entupido - Quando os respiros do carburador ficam entupidos a resposta do motor fica fraca. Sempre verifique se os respiros não estão entupidos ou dobrados entre o sistema da suspensão.
Nível das bóias - Quando o nível das bóias fica baixo, o motor fica com a carburação pobre. Caso contrário, quando o nível fica alto demais o motor parece afogado (rica).
Válvula de combustível gasta - Com o tempo a agulha da válvula de entrada de combustível gasta, permitindo que o combustível entre excessivamente no carburador deixando a carburação rica. Troque a válvula a cada dois anos.
3. A influência do clima
O clima pode ter uma grande influência sobre a carburação. As variáveis do clima alteram a densidade do ar. Quando a densidade aumenta você tem que deixar a carburação mais rica e vice-versa. Abaixo os principais fatores que alteram a densidade do ar:
·Temperatura do ar - Quando a temperatura sobe a densidade do ar cai.
· Umidade - Quando a umidade sobe a densidade do ar sobe.
· Altitude - Quanto mais alto, menos densidade do ar.
4. Ande e sinta!
Agora que entendemos as principais funções dos componentes do carburador, influências do clima e que eliminamos problemas técnicas, vamos trabalhar!
Existem vários métodos para se ajustar o carburador, mas a mais eficaz é andar, sentir, ouvir e experimentar. Comece colocando pequenas marcas do punho do acelerador, segmentando ele em 4 divisões (marcha lenta, 1/4, 1/2 e marcha alta). Coloque a mistura de óleo (em caso do motor 2-tempos) que você pretende usar sempre e escolha um terreno amplo e plano ou levemente inclinado com solo firme para testar a moto. Comece sempre com os giclês originais da fábrica para iniciar o teste. Para verificar a carburação até 1/2 abertura use a segunda ou terceira marcha. Para as posições acima disso use a terceira e quarta marcha. Altere as posições do acelerador lentamente entre as respectivas divisões. Se a resposta for lenta e o barulho do motor é booooooowah, é um sinal que a carburação está pobre. Levante o afogador um pouco e verifique se a resposta melhora. Se a carburação for rica o motor produz um barulho de blublublublu soltando fumaça, como se estivesse no afogador. Sempre faça os ajustes dos giclês conforme as áreas de operação descrita em ponto 1. Geralmente o parafuso do ar fica 1 ou 2 giros aberto. Para fazer o ajuste fino, gire o parafuso do carburador, aumentando os giros um pouco e gire o parafuso do ar até o ponto onde o motor atingir o máximo de rotação, este é o ponto ideal.
5. Acelerando é uma arte
Embora os carburadores venham se sofisticando, (power jets, sensores de posição de acelerador e até já existam sistemas de injeção eletrônica para motos 2-tempos), os carburadores de uma moto de enduro ou cross mais moderno é ainda mais simples do que o carburador de um Fusca em função do peso e espaço limitado. Carburadores de motos 2-tempos, por exemplo, não tem vários estágios ou uma bomba de aceleração. Ao contrário dos sistemas de injeção eletrônica, carburadores precisam de um vácuo para sugar gasolina dentro do venturi do carburador. Se você abre o acelerador rápido com baixa rotação, o vácuo dentro do venturi do carburador cai até a pressão atmosférica, reduzindo a velocidade do ar dentro do carburador, dificultando a sucção da gasolina da cuba resultando em uma aceleração retardada do motor.
Todos os carros com carburação hoje tem bombas de aceleração que injetam pequenas quantidades de gasolina diretamente dentro do venturi. Enquanto a injeção não for introduzida em motos off-road, a aceleração mais rápida na sua moto será conseguida quando você abre o acelerador gradualmente (e não em uma vez só como muita gente pensa), acompanhando a elevação de giros do motor.
Colaborador: Joel Gomes
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